Citação:

"Ora afinal a vida é um bruto romance
e nós vivemos folhetins sem o saber."

- Sweet Home, Carlos Drummond de Andrade

Sobre o blog:

Narração dos fatos da vida de um universitário, aspirante a escritor de prosa e verso. Nesse passeio, o cotidiano, a amizade, a cidade natal, o amor e temas metafísicos ganham um enfoque literário sob a visão de quem escreve.

Sobre mim:

Meu humor atual - i*Eu!

Nome: João Francisco Amorim Enomoto
Nascimento: 20/10/1984
Idade: 21 anos
Estuda: Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP - Curso Bacharelado em Ciências da Computação
Família: Sandra, mamãe; Lumi, irmã; Pedro, irmão caçula.
Inspirações literárias: Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, João Guimarães Rosa, José Saramago, George Orwell, Clarice Lispector, Machado de Assis, Pablo Neruda, Italo Calvino.
Ouve: MPB, Bossa Nova, Samba.
Gosta: de todos os amigos que tem, ouvir música, sair com os amigos, filosofar, escrever, ler livros de computacao e literatura em geral.
Não gosta: gente egoísta, egocêntrica ou limitada na maneira de pensar.
Lendo: Um livro aqui, outro acolá.

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terça-feira, julho 27, 2004

Beatriz

Foi um dia chuvoso e muito, muito triste. Eu nem me lembro ao certo o porquê do estar triste; lembro que foi uma tarde pesada, plúmbea. E foi sem um consolo que eu caminhei entre as gotas de água que despencavam do céu, alvejando o corpo dos transeuntes como balas de pesar, rumo ao circo que estava na cidade. Nem lembro o motivo que me fez escolher o circo como cura para minhas feridas, apenas recordo de estar muito triste. Talvez a animação do picadeiro relembrasse as boas épocas da infância, quando não haviam problemas e tudo era muito mágico e inexplicável. Não sei.

Passo-a-passo, alcancei a bilheteria e comprei uma solitária entrada. Fiquei esperando num pequeno trecho coberto, próximo a entrada do picadeiro, onde vendiam balões, comes, bebes e tudo aquilo que antecede o grandioso espetáculo. Sequer tinha percebido, mas havia muita gente junto comigo, mesmo para um dia de chuva. As crianças todas com aquele ar de curiosidade: o que tem debaixo da lona afinal? Os adultos com a cara da renovação, acompanhando as crianças como quem revivesse as suas boas épocas na pele dos novos. Naquele pequeno, mas cômodo, espaço, um pouco do calor humano do qual precisava.

Não demorou muito para que liberassem a entrada para o grande palco. Contrariando às minhas expectativas, em quinze minutos todos os assentos estavam ocupados por sorrisos. E em pouco tempo, as luzes surgiram e trouxesseram consigo o apresentador, com sua tradicional cartola, nariz de palhaço e uma pança para ninguém botar defeito. "Respeitável público! (ênfase no R, com um som puxado e forte) Bem vindos ao magistral espetáculo do grandioso Circo Místico!". Aquela módica chamada já tinha provocado uma pequena quentura no meu coração. Era como se eu estivesse ante uma porta do tempo e essas palavras fossem a chave que a abria.

Um a um, os espetáculos iam sendo apresentados à animada platéia, alheia a chuvarada do lado de fora. Minha diversão pessoal sempre foram os palhaços e suas brincadeiras. Por um momento toda aquela tristeza que me enterrava a alma foi dispersa; fez-se o riso e em seguida a gargalhada. Uma pirueta e todo mal que havia no mundo parecia ter perdido a sua razão de existir. Como eu ri! Ri até me acabar o ar e premiei a trupe com o troféu do meu aplauso, bem como todos os que me acompanhavam nas simples cadeiras que o circo alugava como assento. Passaram os tigres da arábia, os leões das savanas, os elefantes indianos, os malabaristas e suas fenomenais técnicas da anti-física, contorcionistas e seus corpos de borracha, mágicos e seus infindos coelhos na cartola, passou um pedaço do mundo por aquele picadeiro. Senti-me muito feliz de perceber que em meio a tantas mudanças, o circo ainda tinha o dom de ser um espaço parado no tempo.

"Agora é com muito orgulho que apresentamos a vocês, a magnífica Beatriz (falado longamente)!". Os holofotes miravam uma moça pequenina e alva como a lua, lá no alto de um dos pilares, com roupa de bailarina e uma sombrinha rosa. Uma fina corda se estendia de um lado ao outro do picadeiro, elevada pelas duas pilastras que serviam para apoiar os trapezistas (cujo número ainda não havia sido executado) e a maquiada boneca de louça, lá nas alturas. Se me perguntassem eu a acusaria de ser um anjo, um anjo triste, como se de súbito toda aquela tristeza com a qual entrei no circo fosse magicamente transmitida à frágil menina. E com os delicados pés é que ela começou a ganhar os céus. O público nada fazia, além de olhar para cima boquiaberto e apreciar o espetáculo. Mas o espetáculo não era voar: era Beatriz. Nos seus olhos transpareciam uma amargura, uma tristeza sem tamanho que gelou minha alma e me fez perceber que lá fora ainda chovia. Ela era cândida, alva como uma poesia; somente sua face mostrava um certo tom rubro, talvez ela não esperasse tanta gente a espiá-la. E ela seguia seu passar, cumpria o seu papel (talvez ela vivesse somente disso): caminhar no céu de nuvens imaginárias.

De repente seu passo vacilou exatamente no meio da corda e ela flutuava levemente rumo ao triste país do material. Eu não sei o que me sucedeu, mas no mesmo momento em que seus pés desgrudaram da corda, eu me levantei e corri rumo ao centro do palco. E conforme corria, meus olhos acompanhavam Beatriz, menina que mesmo durante a queda não parava de dançar o seu triste balé solitário e tampouco perdeu aquela frieza de sentimento. Ela voava sinceramente e não se incomodava com o cruel destino que a aguardava. Meu pé, como o da equilibrista, vacilou e caí antes mesmo de entrar no picadeiro. Só pude levantar os olhos e acompanhar o trágico espetáculo: o encontro de Beatriz com a terra de onde ela veio.

Meu pânico aumentou ao ponto d'eu perder completamente a razão. Corri ao palco mesmo com umas pequenas escoriações e meus braços foram de encontro ao corpo inerte da equilibrista danada pelos céus. Abracei-a e me ceguei na brancura de seu corpo, onde abandonei todas as minhas lágrimas de amor. Dizia baixinho em seu ouvido "Eu te amo! Eu te amo, Beatriz!", mas ela havia perdido a consciência durante o choque. Ela, tão acostumada a viver nas alturas de súbito, se via num lugar estranho, frio e triste. Eu implorei pesadamente pelo seu amor, pedi a ela que me ensinasse a andar com sua magia, sem colocar os pés no chão. Mas os meus apelos foram todos vãos. Perguntei ao anjo que caiu do céu se um dia eu podería ser feliz, se algum dia eu podería entrar na sua vida.

Os artistas estupefatos, tentaram agradar as crianças, as quais não sabiam muito bem onde fica a tênue barreira que separa a vida da morte. O outrora hilário apresentador tinha se transfigurado numa pessoa triste e desesperada, a chamar os médicos e pedindo uma ambulância. Tudo em vão. Se eu pudesse, jurava que iria buscá-la no mais profundo inferno, no céu ou seja lá onde a sua alma estivesse. Mas nem os médicos poderíam fazer isso: Beatriz tornou-se uma estrela. Ao fim da apresentação dos artistas, que não queriam preocupar o público, as pessoas aplaudiam e exigiam bis, como se tudo fosse um grande show montado para entreter aquele amontoado de rostos. O arcanjo passou o chapéu; Beatriz, embora estivesse em meus braços, voltou a voar nos céus.

Tudo terminou nos aplausos. De súbito, eu estava na minha cadeira, voltara a ser público. Beatriz não estava no chão, e sim no outro pilar, indicando que o seu show havia sido um sucesso. Aplaudí e resguardei minha loucura. O show podía continuar.

Texto baseado na música de Chico Buarque, Beatriz, para o balé 'O Grande Círco Místico'.

Postado por Little John às 23:19.


Auto-metalinguagem
ou ainda Confissões das seis da manhã

De súbito veio uma vontade de vomitar todas as expressões e filosofias por onde caminhei durante esses penosos 19 anos de vida. O asco pela falsa cultura dos incultos, que se acham cultos mas nada sabem. Quem me vê agora, crê que eu recobrei a consciência e despertei novamente para o eu. Crescer me fez incrivelmente anti-social, um tanto distante do humano, mas ainda sim sou humano e me apego às coisas que tento desaprender ser tão dependente.

Confesso, com muito pesar e vergonha até certo ponto, que tenho pelo menos quatro textos inacabados que deveriam aqui aparecer. O ócio faz isso, afinal acho o descanso merecido, mas peno por ter descansado demais, ou descansado de tudo. É. Internet é isso aqui. A desforra dos oprimidos socialmente (estranhamente me encaixo no perfil), um conforto, o alívio, a alegria e a tristeza. É uma outra vida praticamente. Vida esta a qual eu prometi de pés juntos sair, ou ao menos menos depender dela. Tanta coisa pra fazer, tanta idéia para ser pensada, e eu aqui, ridiculamente redigindo um texto. Aproveitemos, pois então.

Em agosto, esse lugar (site, o nome que seja) completa 2 anos. 271 posts (contando esse) de desabafos, poesias, literaturas, filosofias, retratos. A transição da imaturidade para o que sou (ainda imaturo, mas velhaco para a vida). Sinceramente, sinto-me orgulhoso pelas decisões tomadas que findaram por me guiar no caminho em que estou. Digamos que eu "me encontrei". Achei diversos objetivos de vida, que tocam desde o amor (eternamente a causa maior), até essa amadora vida literária. A representação deste é esse último texto que eu coloquei no ar. Achei-o muito bom, reprensentou perfeitamente o meu jeito de pensar, uma idéia (um conto não é muito mais do que isso) com um estilo que aos poucos eu moldo até chegar a ser meu completamente. Quanto ao amor, é um retrato do indescritível; o lado irracional e no entanto tão bem definido e lúcido de si mesmo, a quem chamam Adélia.

E é isso, basicamente. Minha revolta com a internet continua (pelo caminho profissional que eu escolhi, provavelmente essa batalha será uma constante) e meu discurso pode até soar um tanto paradoxal, mas eu preciso aprender a valorizar o que não está nessa melindrosa rede. Vou me embriagar de literatura, poesia e teatro, porque amanhã eu estou de volta.

Postado por Little John às 06:00.