"Ora afinal a vida é um bruto romance e nós vivemos folhetins sem o saber." - Sweet Home, Carlos Drummond de Andrade
Sobre o blog:
Narração dos fatos da vida de um universitário, aspirante a escritor de prosa e verso. Nesse passeio, o cotidiano, a amizade, a cidade natal, o amor e temas metafísicos ganham um enfoque literário sob a visão de quem escreve.
Sobre mim:
Nome: João Francisco Amorim Enomoto Nascimento: 20/10/1984 Idade: 21 anos Estuda: Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP - Curso Bacharelado em Ciências da Computação Família: Sandra, mamãe; Lumi, irmã; Pedro, irmão caçula. Inspirações literárias: Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, João Guimarães Rosa, José Saramago, George Orwell, Clarice Lispector, Machado de Assis, Pablo Neruda, Italo Calvino. Ouve: MPB, Bossa Nova, Samba. Gosta: de todos os amigos que tem, ouvir música, sair com os amigos, filosofar, escrever, ler livros de computacao e literatura em geral. Não gosta: gente egoísta, egocêntrica ou limitada na maneira de pensar. Lendo: Um livro aqui, outro acolá.
Tanto tempo sem dar notícias minhas, tal como se eu tivesse perante os leitores do blog.
Não sei como me sinto por expôr minha vida novamente aqui neste espaço. Aviso que minha vida mudou mais em 1 mês do que em 18 anos. Muita coisa aconteceu que achei que não seria digno de compartilhar com o público leitor, se é que alguém lê esse blog.
Vamos tentar colocar os pingos nos "is" então, colocar a mão na massa.
Dia 27 de dezembro de 2002 me separo da Érika "oficialmente" já havia um bom tempo que as brigas estavam aumentando e ficando cada vez mais sérias. Pois bem, na festa do cowboy (20 de dezembro) decidimos juntos que era melhor separar, mas quis prolongar essa dor até dia 27 de dezembro. Dia 27 ficou insuportavel. Assistimos a estréia do Senhor dos Anéis, como haviamos combinado previamente, junto com mais um pessoal. Assistimos e depois decidi ir para a Devir com o Koiti, Thais, Cowboy, irmão do cowboy e mais alguém que tenha ido e eu esqueci. A Érika não gostou muito da idéia, mas eu queria realmente estar ao lado dos meus amigos naquela hora, e acho que não era a vontade dela. Ela foi meio que a contragosto mas acabamos conversando na Devir mesmo. Acabou, foi o fim de nossos 8 meses e 27 dias de namoro. Amor não dura para sempre, posto que é chama, mas que seja eterno enquanto dure, já dizia o poeta, e achp que nada traduz melhor o sentimento daquele momento.
Claro que mesmo depois de tudo isso ainda acredito em amor eterno, amor impossível, amor platônico. Afinal, quem seria eu se não acreditasse no verdadeiro poder do amor, sendo que vivo dele e por ele?
Pois bem, os dias que se seguiram foram de conformação. Tentei crer com minha alma que realmente acabou tudo, que foi o melhor para ambos como de fato creio que tenha sido.
Veio ano novo e busquei nele minha esperança de um ano melhor. Até bebi um pouco (quem diria, sempre odiei o álcool e estava lah eu bebendo) e teve até banho de champagne para lavar os maus acontecimentos de 2002. Foi um dia feliz, embora a situação não estivesse muito favorável a acontecimentos desse tipo. Foi um final de ano feliz para um ano feliz, até certo ponto.
Dia 2 de janeiro comecei a trabalhar na farmácia de meu pai. Ele tava precisando de um boy pro período da manhã e lá fui me aventurar né? R$280,00 + caixinhas + almoço por 42hrs por semana, nada mal né? Se bem que eu queria mesmo era emprego na área de web ou info mesmo. Ai que eu vi como é foda trabalhar. Trabalhar como boy numa região high society de São Paulo é bem foda. Eu vi certo "preconceito" quanto ao povo que trabalha nessa área. É foda você só por ser boy ter de ser direcionado ao elevador de serviço. Eu não sou social? Eu não sociável? Eu sou gente caralho! Eu falo, respondo e penso! Não tenho pré-requisitos para entrar num elevador social? Eu que sempre preguei em minha própria concepção que todo ser humano é igual, que não é por situação financeira, não é por cor que você deve julgar alguém e tenho de encarar esse tipo de tratamento. Seja, é um trabalho e você sempre vai ser pisado por alguém. O jeito é engulir seco tudo isso pois final do mês tem pagamento e isso é o que importa.
Aproveitei esse tempo que ficava parado ou andando pelas ruas para pensar sobre mim. Pensei em tudo que eu errei com a Érika e vi o quanto eu machuquei ela. O quanto eu fui mesquinho, egoísta, idiota. Pensar no que eu fiz a ela até me dói a cabeça e não consigo lembrar do que eu eralmente fiz de bom para ela. Lembro de raros momentos em que realmente agi como o namorado dela, dando presentes, agradecendo por ela estar ao meu lado, teve momentos maravilhosos. Mas vários momentos se sobrepõe sobre os bons e eu começo a me sentir gelando por dentro. Agora eu sabia perfeitamente o que a Érika sentia. Eu machuquei ela a um ponto em que os limites do corpo e da alma não suportam. Eu machuquei ela o suficiente para ela me odiar por duas eternidades. Mas hoje tentamos ser bons amigos e eu tento ser agradável com ela, como há tempos não fui. Ainda penso em querer voltar com ela. Gosto muito dela por ela ser uma pessoa maravilhosa que me amava. A primeira pessoa que me disse iso, que me amava, e não era minha mãe ou meu pai ou minha irmã. E eu, de maneira estúpida jogo tudo para o alto como se fosse a coisa mais simples do mundo. Patético fui. Tenho palavras rudes para me autodenominar que seriam suficientes para fazer 2 megas de texto, mas poupo o leitor disso.
Veio-me então o pensamento pré-maturo de que eu agora entendia o amor e podia partir para outra. Tentei achar outro alguém para amar, para não cometer os erros que cometi com a Érika, para nunca mais cometê-los. Tentei e acabei me machucando mais ainda. Ai vieram-me os pensamentos "certos", minha verdade de hoje: não há ninguém que este poeta possa amar da mesma maneira que outra pessoa o ama. Ainda creio no amor verdadeiro, mas o enterro comigo. Não quero mais amar. Amar por mais gostoso que seja o momento é dor, para os que não sabem amar. Amor físico e espritual, dois amores que não desejo mais. Dois amores que julguei saber como eram, julguei saber entende-los mas era utopia de uma mente entorpecida. Fui fantasioso demais, fui pretencioso demais. Não desejo mais o amor, que não seja da Érika. Mas dúvido que um dia a Érika vá querer voltar comigo, pois como disse a vocês, cometi erros suficientes para ela me odiar até que minha carne apodrecida estivesse sob a terra.
Ah sim, virei poeta! Talvez a única coisa boa que tenho para anunciar ao leitor. Aproveitei minha própria dor e experiência para torná-la em algo "útil". Pois virei poeta e escritor, para tentar deixar um legado bom aos que um dia sofrerem a mesma dúvida como eu. Agora canto exatamente o que esta dentro de mim: o amor verdadeiro e puro que sempre sonhei e acho que nunca terei. Canto a minha tristeza, minha felicidade e a tristeza e felicidade dos outros também. Talvez única utilidade deste pedaço de carne que sou mas não desejo mais ser. Carne é fraca, assim como eu. Não sei se gosto de ser isso. Gosto de ser espírito, gosto de poder fazer bem aos outros, mesmo que isso inclua sacrifícios a mim mesmo. Não dou a mim o mesmo valor de antes. Não gosto nem de pensar muito que existo. Ma seja, enquanto viver hei de escrever, até que as mãos caiam, até onde meu cérebro pensar, até onde minha imaginação alcançar, até quanto eu puder chorar. Não me importo mais. Quero escrever mais do que Drummond, Vinícius e Neruda juntos e cantar mais alto do que eles, e mais além.
Outro causo que ocorreu. Minha mãe voltou a ter um daqueles ataques pois não largo da net e estou aqui me envenenando nesse exato momento. Em tese, perdi o respeito de minha mãe, acho que ela desacredita em mim, assim como eu desacredito. Não faço um puto aqui em casa e gasto meu tempo útil com Ultima Online, ICQ e outras maldições de internet. Cansei. Vo tentar cuidar um pouco de mim, da casa, para que eu possa pelo menos morrer com dignidade e minha mãe falar que teve orgulho de seu filho, que seu filho a ajudou quando ela precisava, deu dinheiro para ajudar nas despesas da casa, que deu dignidade a família, que foi justo como seu avô e ela mesma, que a justiça divina ganhou, que ser justo neste mundo podre vale a pena, que eu ganhei, que eu ganhei mesmo com todas as pessoas do mundo tentando passar a perna, mesmo que todos tenham tentado ir além de maneira mais rápida e menos nobre. Eu quero dar esse orgulho a minha mãe e por isso hei de lutar que me saia o sangue das veias, até que eu vá além do que eu consigo fazer, escrever ou entender. Eu quero gritar que eu ganhei, que eu ganhei de maneira justa e leal que nem meus progenitores, que eu honrei meu nome de família e que os Amorim ganharam, que temos moral. Quero que meus filhos, se um dia os tiver tenham orgulho de mim e falem que seu pai foi um homem de bem. Queria ter honra e viver com alguém com honra, mas acho melhor viver sozinho. Que confiança sou eu capaz de depositar nos outros sendo que não confio em mim mesmo? E as pessoas na qual tenho confiança eu simplesmente atiro aos procos, pateticamente. Eu vejo um mundo corrompido e um homem sendo corrompido por este...
Mas foda-se tudo... já tive vontade de me matar mas nunca tive coragem de falar isso a ninguém. Alias, depois destes últimos eventos não me faltou coragem para pegar uma faca na cozinha e sentir o que é cortar um pulso. Segundo o catoliscismo, renegar a vida é pecado, uma ofensa a Deus e heresia digna do inferno. Viver desse jeito é um inferno, então o que me custa ir para outro inferno? Alias to escrevendo isso aqui para ninguém ler, escrevo meramente pra deixar aqui e ver se tem alguma alma penada que le. Se quiser comentar depois também é bem vindo.
Talvez que le isso diga: é esse cara precisa de auxílio psicológico. Não preciso. Se for pra comer do amargo prato da vida, comerei até os miolos. Se eu sobreviver a tudo isso aqui, ao meu inferno pessoal, então ninguém vai me deter. Hei de ter uma vida digna de mim, de minha família, de um trabalho e de dizer que fui além do ser humano. Não me acho maior que ninguém por que eu prego essa igualdade, tão distorcida por um mundo distorcido. Apenas digo que tem gente que se nega a enxergar, tem gente que nunca pensou em enxergar, tem gente que se enxergou e se matou e tem gente que enxergou e teve honra de continuar a viver com orgulho, por mais que pisem na pessoa, por mais que a tratem como um lixo, essa pessoa chegou num grau de dignidade fora dos padrões normais. E eu almejo isso.
Também esqueci de dizer, mas acho que perdi o respeito de minha irmã também. Aliás, quem ainda confia em mim? Quem me respeita? Quem me conhece? Pois bem, hei de reconquistar o orgulho de minha família nem que seja com meu próprio sangue. Vou recuperar tudo que perdi, inclusive um pedaço de mim que eu perdi há tempos atrás. Perdi o que eu era, algo bom que eu era, distorci, fui distorcido e agora quero voltar. Atingi um ponto da maturidade de no passado e evolui para um ser que perdeu noção de muitas coisas que faziam parte de sua integridade moral. Estou disposto a voltar a ser o que era. Lutarei contra todos, até contra Deus, se Ele se opor a mim, mas hei de dar dignidade a esta alma e as almas que o cercam.
2003 tem sido um ano de grandes mudanças, ou pelo menos eu enxergo desta maneira. Amores começam, amores se vão, e vejo que pessoas estão mudando. Chegou o ponto de João Francisco Amorim Enomoto mudar. Chegou a hora de crescer e alcançar o impossível. Chegou a hora de recuperar o que se perdeu.
Decidi que vou ficar aqui e vou lutar. Vou lutar pelos que valem a pena, passados pelo meu crivo da verdade. Que Deus me guie e me dê forças, pois Nele creio e em sua verdade divina. Amém.